Por: Cristina Veit
A madeira de teca é reconhecida mundialmente como uma das matérias-primas mais nobres e duradouras utilizadas na indústria naval. Com origem em florestas tropicais do sudeste asiático, esta madeira destaca-se pela sua resistência natural à água salgada, às variações climáticas e à ação de fungos e insetos, características que a tornaram, ao longo dos séculos, a escolha preferida na construção e no revestimento de embarcações. Para além da robustez estrutural, a teca alia beleza estética, com a sua cor dourada e veios elegantes, à praticidade, já que exige pouca manutenção quando comparada a outras madeiras. Por estas razões, continua a ser um material de referência incontornável para quem procura qualidade e longevidade na construção naval.
Sabia que a madeira de teca (Tectona grandis) é utilizada pelo ser humano há milénios? Registos históricos e linguísticos revelam a longa relação entre esta espécie e diversas culturas da Ásia.

Originária da Índia, de Myanmar, da República Democrática Popular do Laos e da Tailândia, a teca foi também amplamente introduzida noutras regiões tropicais, como Java, na Indonésia, onde se adaptou com sucesso e se tornou comum. Desde tempos antigos, já era exportada do subcontinente indiano para o Golfo Pérsico.
Na Índia, a teca é conhecida e valorizada há mais de dois mil anos. O seu nome em sânscrito é saka, e nas línguas dravídicas do sul da Índia, como o tâmil, surge como tekku. Foi desta forma que os portugueses a encontraram nas suas viagens ao Oriente, adaptando o termo para “teca” – que, mais tarde, deu origem à palavra inglesa teak.
Graças às suas qualidades excecionais – como a durabilidade, a resistência à água e aos insetos – a teca foi inicialmente usada na construção de coberturas de templos e palácios. Rapidamente, porém, conquistou também um lugar de destaque na construção naval tradicional, um uso que perduraria por séculos e ajudaria a consolidar a sua fama global.
Do Índico à Europa: como a madeira conquistou os mares
A teca chegou à Europa através das expedições de Vasco da Gama, no final do século XV. Durante as suas viagens à Índia, o navegador ficou impressionado com a robustez dos barcos locais construídos com esta madeira. Após ver as suas próprias embarcações sofrerem com brocas marinhas, reconheceu na espécie uma aliada.
No final do século XVIII e início do XIX, a teca desempenhou um papel central nas tensas relações entre França e Inglaterra, num contexto de guerra quase contínua. Utilizada sobretudo na construção naval pela sua durabilidade e resistência, tornou-se um recurso estratégico.
Graças ao acesso privilegiado às florestas de teca da Índia, a Coroa britânica dispunha de uma vantagem comparativa crucial sobre os franceses, evidenciando as bases do poder colonial britânico.

Do convés de navios aos bancos de jardim
A utilização da teca em mobiliário de exterior no Reino Unido tem uma origem curiosa. Com a substituição dos antigos veleiros com casco de teca por navios a vapor em aço, a madeira dessas embarcações desativadas começou a ser reutilizada – e foi assim que a teca encontrou uma nova vida, sob a forma dos icónicos bancos de jardim nos parques de Londres, alguns dos quais ainda hoje existem.

Com o desenvolvimento de plantações em territórios sob domínio britânico e holandês, como a Índia e a Indonésia, a madeira tornou-se mais acessível, consolidando-se como uma escolha natural tanto no mobiliário de exterior – urbano e particular – como nos decks de embarcações, impulsionada pela popularização do lazer náutico e pelo uso crescente em veleiros e outras embarcações.
A expansão das plantações no Novo Mundo
A primeira plantação de teca nas Américas foi estabelecida pelos britânicos em Trinidad e Tobago, em 1913, a partir de sementes trazidas da Birmânia – atual Myanmar.
Em 1968, no Brasil, o engenheiro agrónomo Luis Flavio Veit deu início a ensaios de campo com diversas espécies tropicais. A sua principal motivação era encontrar alternativas sustentáveis à madeira nativa, sobretudo ao mogno (Swietenia macrophylla) – conhecido localmente como araputanga –, para o qual havia pouca perspetiva de suprimento sustentável. Pretendia também responder às exigências do novo Código Florestal, promulgado em 1967, que obrigava à reposição das florestas exploradas.

Os ensaios realizados na região de Cáceres, no estado de Mato Grosso, incluíram espécies nativas, como o próprio mogno, e espécies exóticas – entre as quais o pinheiro, o eucalipto, o cedro-australiano e a teca. As mudas de mogno foram severamente atacadas por uma praga tropical específica de meliáceas. Já a teca, extremamente rústica, não era atacada nem pelas formigas-cortadeiras e destacou-se pelo seu rápido crescimento em altura, o que favorecia a sua dominância em relação à vegetação concorrente.
A decisão de optar pela teca foi reforçada pela recomendação de um investigador florestal do USDA Forest Research Station, de Porto Rico, que afirmou: “Where mahogany grows, teak grows even better.” Ele sugeriu ainda que Luís viajasse até Trinidad e Tobago para conhecer as plantações locais e tratar da aquisição de sementes.

Durante sete anos consecutivos, sementes provenientes de plantações com origem genética na região de Tenasserim – hoje Tanintharyi – conhecida pela alta qualidade e pela tonalidade dourada da sua madeira, abasteceram os viveiros da Cáceres Florestal S/A, empresa responsável pelas primeiras plantações comerciais de teca no Brasil.
A jornada pioneira que deu raízes ao futuro
A Cáceres Florestal deu continuidade ao seu papel pioneiro, desenvolvendo técnicas próprias de manejo, poda e desbaste da teca, com base em investigação técnica e experiência de campo — numa época em que havia pouco conhecimento local sobre a espécie. O Manual do Plantio de Teca, publicado pela empresa, teve um papel fundamental na difusão da cultura no Mato Grosso e em estados vizinhos.
Um marco neste percurso foi a definição de um ciclo de corte de 40 anos – um prazo significativamente mais curto do que os 60 a 100 anos praticados nas florestas e plantações do Sudeste Asiático – tornando o cultivo economicamente viável num horizonte mais acessível.
A partir de 2001, com as primeiras árvores a atingir a maturidade, iniciou-se uma nova fase: o diálogo com carpinteiros navais no Brasil. A empresa passou a conhecer em detalhe as exigências da construção de conveses e a criar produtos para essa realidade. Dessa colaboração nasceu o fornecimento de madeira serrada da classe FEQ (First European Quality), com ripas de grão radial e semirradial, ideais para o revestimento de veleiros, embarcações a motor e iates.
Das plantações brasileiras aos estaleiros europeus
Em 2022, nasceu a Eco Teak, subsidiária em Portugal, com a missão de fornecer teca serrada certificada ao mercado europeu, incluindo o Reino Unido e o espaço Schengen.
A madeira disponível atualmente provém de árvores com mais de 40 anos, plantadas em 1982, e é certificada FSC® 100%. Esta certificação atesta não só a origem legal da madeira, como também o respeito pelas exigentes normas ambientais da União Europeia.
Todos os produtos encontram-se em stock em Portugal, prontos para entrega imediata. Paralelamente, está em curso o desenvolvimento de uma base de dados para aproximar proprietários de embarcações e carpinteiros navais de diferentes regiões — uma ferramenta pensada para facilitar a renovação de conveses, promover a partilha de conhecimento técnico e estimular novas colaborações no sector náutico.
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