Portugal tem tudo para ser um dos melhores países europeus na náutica de recreio, mas precisa de um Plano Estratégico Nacional a 20 anos, um “Simplex Náutica” e um plano para modernização das infraestruturas do mar. Estas foram algumas das conclusões do 1º Congresso Náutico Internacional que a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) organizou ontem, 30 de outubro, em Mafra. Os mais de 450 participantes assistiram a quatro painéis de debate e a diversas intervenções de especialistas nacionais e internacionais.
Tratou-se de um número significativo de presenças e a Direção da ACAP congratula-se com a forma como decorreu esta iniciativa e agradece a presença de todos, com uma menção especial às empresas, oradores e instituições públicas presentes. O sector passou uma mensagem de união importante para os desafios que se seguem.
“Mostrar uma visão europeia e as perspetivas do que poderá ser o mercado nacional nesta área foi um dos principais objetivos desta iniciativa. Com quase 3000 quilómetros de costa e 620 de bacias interiores, 37 marinas e portos de recreio e 42 estações náuticas verificadas, o país oferece condições muito favoráveis para a náutica de recreio, mas o sector necessita de simplificação de processos, menos burocracia e modernização das infraestruturas”, referiu Fernando Sá, presidente da Divisão Náutica da ACAP.

Numa intervenção sobre o potencial de desenvolvimento do sector, Hermano Rodrigues, Diretor da consultora EY-Parthenon, afirmou que no nosso país existem mais de 6000 empresas na náutica de recreio que dão emprego a quase 10.000 pessoas. O volume de negócios é superior a 500 milhões de euros. No ranking europeu, liderado pela Itália, Portugal ocupa o 12º lugar. Defendeu a necessidade de existirem “estudos robustos para o sector para orientar políticas e atrair investimento”.
Na sessão de encerramento o Secretário de Estado das Pescas e do Mar, Salvador Malheiro, considerou que é preciso “potenciar a náutica e fazer dela uma âncora da nossa estratégia para o mar”. Afirmou ainda que é necessária uma “abordagem integrada” que compatibilize os projetos com a economia e a comunidade locais, dando como bom exemplo o que tem sido feito com a rede de estações náuticas.
Para Duarte Cordeiro, ex-ministro do Ambiente da Ação Climática e que foi o keynote speaker do Congresso, o sector tem de estar alinhado com a sustentabilidade, integrando-se nos objetivos estratégicos de descarbonização admitindo, no entanto, que existem diversos constrangimentos para que isso aconteça em áreas como a das infraestruturas. Por isso, considerou que o sector da náutica deve atuar “ao nível da infraestrutura, financiamento para a transição, competências e circularidade”.

Philip Easthill, Secretário-Geral da European Boating Industry (EBI), que reúne a indústria náutica europeia, apresentou uma panorâmica do sector a nível europeu, assim como as expectativas sobre a evolução do mercado, incluindo Portugal. Novos mercados, crescimento do turismo náutico e do mercado europeu, manter a competitividade e parceria entre indústria e políticas públicas são os principais desafios do sector.
O 1º Congresso Náutico Internacional contou com quatro painéis de debate onde se abordaram temas como a simplificação administrativa, as infraestruturas náuticas, os projetos inovadores e soluções para simplificar processos. Fez-se um diagnóstico do que tem falhado nos últimos 25 anos, altura em que foi publicada uma diretiva europeia que poderia ter sido o “trampolim” para uma visão estratégica, referindo-se também que tudo o que estava previsto num decreto-lei publicado em 2018 sobre o sector não se concretizou.
Reconheceu-se ainda que há um caminho a fazer para a simplificação dos processos e que são necessárias mais marinas. A possibilidade de existir um modelo de parcerias público-privadas para injetar dinheiro nas infraestruturas portuárias, a necessidade de integrar processos e instituições e que exista uma comunicação fluída e a criação de um “guichet de decisão” para os temas do mar, foram outras das matérias abordadas.













